domingo, 18 de maio de 2014

A Justiça Cabe a Todos

[PROTÁGORAS] Visto que os seres humanos eram parte do projecto divino (antes de mais devido ao parentesco que tinham com Deus), foram os primeiros a reconhecer os deuses e começaram a erguer-lhes estátuas e altares. De seguida e sem mais demora começaram a associar a sua voz aos nomes com as técnicas que lhes tinham sido confiadas, e inventaram as casas, as roupas, o calçado, os leitos, e a forma de colher sustento a partir da terra. Era essa a sua preparação, de forma que no princípio habitaram dispersos e não havia cidades. Isto porque os animais selvagens matavam-nos: os humanos eram mais fracos que eles em todos os sentidos, e as técnicas de que dispunham, embora pudessem servir para encontrarem sustento, ficavam ainda assim muito àquem das necessidades que se impunham para combater contra as feras — até porque ainda não tinham a arte da política, da qual faz parte a arte da guerra. A maneira que descobriram para se salvarem foi juntarem-se e fundar cidades. Acontece que assim que se juntavam, visto que não tinham ainda a arte da política, cometiam injustiças uns contra os outros, de forma que rapidamente voltavam a dispersar-se e sucumbiam.

Foi então que Zeus, temendo que a raça que ele criara fosse completamente destruída, ordena a Hermes que leve aos humanos o Respeito e a Justiça [aidôs e dikê], para que pudessem haver regras para as cidades e elos que os unissem em amizade. Hermes recebe essa ordem e pergunta a Zeus de que forma é que deveria dispor a Justiça e o Respeito: «Devo dar-lhes o Respeito e a Justiça segunda a mesma lógica que usámos quando lhes entregámos as Técnicas? É que nessas, basta um ter a Arte da Medicina para servir para muitos, e assim por diante com as restantes Artes. Devo alotar-lhes a Justiça e o Respeito na mesma forma, ou entregá-las a todos?» Respondeu Zeus: «A todos. Todos devem receber parte delas. De outra forma não poderia haver cidades, se apenas alguns poucos tivessem parte delas, como acontece com as restantes Artes. E mais, estabelece em meu nome uma lei que condene à morte como se fosse uma doença para a cidade aquele que não for capaz de tomar parte desse Respeito e Justiça.»

É assim, Sócrates, e por estes motivos que tanto os Atenienses como os restantes, quando se fala da melhor maneira de pôr em prática uma obra arquitectónica ou de outra técnica qualquer, pedem conselho a um número reduzido, e se alguém fora desse número começar a opinar, não ligam ao que ele diz, como tu dizes — e fazem muito bem, segundo me parece — mas quando deliberam sobre a melhor forma de chegar a uma decisão política, algo que não se consegue realizar sem justiça ou temperança, ouvem e muito bem todos os homens, visto que é próprio de cada um tomar parte da justiça; se assim não fosse não haveria cidades.

Platão. Protágoras 322a-323a. Tradução minha.

Επειδὴ δὲ ὁ άνθρωπος θείας μετέσχε μοίρας, πρῶτον μὲν διὰ τὴν τοῦ θεοῦ συγγένειαν ζῴων μόνον θεοὺς ενόμισεν, καὶ επεχείρει βωμούς τε ἱδρύεσθαι καὶ αγάλματα θεῶν· έπειτα φωνὴν καὶ ονόματα ταχὺ διηρθρώσατο τῇ τέχνῃ, καὶ οικήσεις καὶ εσθῆτας καὶ ὑποδέσεις καὶ στρωμνὰς καὶ τὰς ἐκ γῆς τροφὰς ηὕρετο. οὕτω δὴ παρεσκευασμένοι κατ' αρχὰς άνθρωποι ῴκουν σποράδην, πόλεις δὲ ουκ ῆσαν· απώλλυντο οῦν ὑπὸ τῶν θηρίων διὰ τὸ πανταχῇ αυτῶν ασθενέστεροι εῖναι, καὶ ἡ δημιουργικὴ τέχνη αυτοῖς πρὸς μὲν τροφὴν ἱκανὴ βοηθὸς ἦν, πρὸς δὲ τὸν τῶν θηρίων πόλεμον ενδεής – πολιτικὴν γὰρ τέχνην ούπω εῖχον, ἧς μέρος πολεμική –  εζήτουν δὴ ἁθροίζεσθαι καὶ σῴζεσθαι κτίζοντες πόλεις· ὅτ' οῦν ἁθροισθεῖεν, ηδίκουν αλλήλους ἅτε ουκ έχοντες τὴν πολιτικὴν τέχνην, ὥστε πάλιν σκεδαννύμενοι διεφθείροντο. Ζεὺς οῦν δείσας περὶ τῷ γένει ἡμῶν μὴ απόλοιτο πᾶν, Ἑρμῆν πέμπει άγοντα εις ανθρώπους αιδῶ τε καὶ δίκην, ἵν' εῖεν πόλεων κόσμοι τε καὶ δεσμοὶ φιλίας συναγωγοί. ερωτᾷ οῦν Ἑρμῆς Δία τίνα οὖν τρόπον δοίη δίκην καὶ αιδῶ ανθρώποις· “Πότερον ὡς αἱ τέχναι νενέμηνται, οὕτω καὶ ταύτας νείμω; νενέμηνται δὲ ὧδε· εἷς έχων ἰατρικὴν πολλοῖς ἱκανὸς ιδιώταις, καὶ οἱ άλλοι δημιουργοί· καὶ δίκην δὴ καὶ αιδῶ οὕτω θῶ εν τοῖς ανθρώποις, ὴ επὶ πάντας νείμω;” “Επὶ πάντας,” έφη ὁ Ζεύς, “καὶ πάντες μετεχόντων· ου γὰρ ὰν γένοιντο πόλεις, ει ολίγοι αυτῶν μετέχοιεν ὥσπερ άλλων τεχνῶν· καὶ νόμον γε θὲς παρ' εμοῦ τὸν μὴ δυνάμενον αιδοῦς καὶ δίκης μετέχειν κτείνειν ὡς νόσον πόλεως.” οὕτω δή, ῶ Σώκρατες, καὶ διὰ ταῦτα οἵ τε άλλοι καὶ Αθηναῖοι, ὅταν μὲν περὶ αρετῆς τεκτονικῆς ῇ λόγος ὴ άλλης τινὸς δημιουργικῆς, ολίγοις οίονται μετεῖναι συμβουλῆς, καὶ εάν τις εκτὸς ὼν τῶν ολίγων συμβουλεύῃ, ουκ ανέχονται, ὡς σὺ φῄς – εικότως, ὡς εγώ φημι – ὅταν δὲ εις συμβουλὴν πολιτικῆς αρετῆς ἴωσιν, ἣν δεῖ διὰ δικαιοσύνης πᾶσαν ιέναι καὶ σωφροσύνης, εικότως ἅπαντος ανδρὸς ανέχονται, ὡς παντὶ προσῆκον ταύτης γε μετέχειν τῆς αρετῆς ὴ μὴ εῖναι πόλεις.

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