hæc interpretatio est in honorem carissimi semperque mei Maximiliani Wallenstein confecta
Diz-me então: onde ou em que terra
está Flora, a bela Romana,
Alcibíada, e Thaís
a sua prima materna?
onde está Eco, que respondia ao ruído
vindo do rio ou da lagoa
com sua beleza bem mais do que humana?
Onde estão as neves de antanho!
Onde está agora a sábia Heloísa
por quem deu em castrado e depois em monge
Pedro Abelardo em São Dinis?
O seu amor lucrou-lhe isso.
E já que toco no assunto, que é feito da rainha
que mandou que pegassem em Buridan
e o atirassem num saco ao Sena?
Onde estão as neves de antanho!
A rainha Branca flor-de-lis
que cantava com voz de sereia;
a Bertha de pé grande; Beatriz; Allys;
a Herembourges que mandava em Maine,
e a Joana, a boa lorena,
que os Ingleses queimaram em Rouen;
onde estão elas, Virgem Soberana?
Onde estão as neves de antanho!
Príncipe, este semana não me perguntes
onde estão elas, nem este ano;
Ficai com este refrão somente:
Onde estão as neves de antanho?
François Villon. Tradução minha.
Dictes moy où, n’en quel pays,
Est Flora, la belle Romaine;
Archipiada, ne Thaïs,
Qui fut sa cousine germaine;
Echo, parlant quand bruyt on maine
Dessus rivière ou sus estan,
Qui beauté eut trop plus qu’humaine?
Mais où sont les neiges d’antan!
Où est la très sage Heloïs,
Pour qui fut chastré et puis moyne
Pierre Esbaillart à Sainct-Denys?
Pour son amour eut cest essoyne.
Semblablement, où est la royne
Qui commanda que Buridan
Fust jetté en ung sac en Seine?
Mais où sont les neiges d’antan!
La royne Blanche comme ung lys,
Qui chantoit à voix de sereine;
Berthe au grand pied, Bietris, Allys;
Harembourges, qui tint le Mayne,
Et Jehanne, la bonne Lorraine,
Qu’Anglois bruslèrent à Rouen;
Où sont-ilz, Vierge souveraine?…
Mais où sont les neiges d’antan!
Prince, n’enquerrez de sepmaine
Où elles sont, ne de cest an,
Qu’à ce refrain ne vous remaine:
Mais où sont les neiges d’antan?