Passaram nove meses desde que dois homens armados e de máscara entraram no Museu de Olímpia, um dos centros arqueológicos mais importantes da Grécia, e roubaram 77 artefactos em bronze, ouro, cobre e cerâmica. Agora, as autoridades de Atenas anunciaram ter apreendido os objectos roubados, na sua maioria pequenas esculturas de animais. Os contornos da operação, como quase sempre que se trata de tráfico de antiguidades, parecem saídos de um filme.
A polícia prendeu três dos suspeitos na sexta-feira, num hotel da cidade de Patras, depois de um agente à paisana se ter feito passar por um potencial comprador. Um dos homens, que segundo a agência de notícias AFP acabou por divulgar a identidade dos seus cúmplices, tentou negociar a venda de um anel de ouro com 3200 anos: começou por pedir 1,5 milhões de euros e acabou por aceitar 300 mil. Os outros dois esperavam-no no átrio do hotel.
Em seguida, a polícia recuperou os restantes artefactos, muitos com mais de três mil anos – estavam num saco e enterrados numa zona rural nos arredores da antiga cidade de Olímpia, a pouco mais de três quilómetros do museu. Entre eles há várias lucernas, vasos de cerâmica e estatuetas dos atletas que participavam nas corridas de cavalos e touros.
Os ladrões já detidos são de nacionalidade grega, têm entre 36 e 50 anos e alguma experiência no tráfico de antiguidades. Dois deles são desempregados e o terceiro é um construtor civil de Patras.
As autoridades, que estão ainda à procura de dois outros cúmplices, garantiram numa conferência de imprensa no sábado, em Atenas, que todos os artefactos roubados na manhã de 17 de Fevereiro foram recuperados. Mas a equipa do museu arqueológico da cidade onde nasceram os Jogos Olímpicos quer examinar cuidadosamente cada uma das peças para se certificar de que o conjunto está completo. Diz a BBC online que as peças deverão chegar ao museu durante esta semana.
“Hoje é um dia extremamente importante e feliz para o Ministério da Cultura e a comunidade arqueológica”, afirmou no sábado a secretária-geral do Ministério da Educação, Cultura e Desporto, Lina Mendoni, citada pela agência Xinhua. “No meio de uma onda de publicidade negativa em relação à vida da Grécia e dos gregos, que já dura há dois anos, este é um momento luminoso. Estes objectos fazem parte da nossa história”, disse Maria Panagopoulou, habitante de uma aldeia próxima do estádio de Olímpia, à agência de notícia chinesa. “Com o roubo, sentimos que parte do nosso coração tinha desaparecido. Agora está outra vez no lugar.”
O roubo no Museu de Olímpia, o primeiro desde que abriu no edifício onde hoje se encontra, em 1982, foi imediatamente ligado à crise que a Grécia atravessa. Os cortes orçamentais no Ministério da Cultura têm levado a despedimentos de guardas e vigilantes de museus e sítios arqueológicos um pouco por todo o país.
Quando os ladrões entraram no museu arqueológico, apenas uma segurança estava a trabalhar e não foi difícil amarrá-la, apesar de ter oferecido resistência, disseram na altura as autoridades locais. O roubo em Olímpia foi particularmente embaraçoso para o governo de Atenas porque aconteceu apenas um mês depois de a Galeria Nacional de Arte, na capital, ter sido assaltada – foram levadas duas pinturas, uma de Picasso e outra de Mondrian. Perante as críticas à falta de segurança no património grego, o ministro da Cultura, Pavlos Geroulanos, pediu a demissão, que não foi aceite.
No sábado, o governo procurou tirar dividendos da operação policial que levou à detenção dos assaltantes de Olímpia. O ministro Nikos Dendias garantiu: “Mesmo no mais difícil dos cenários nós não comprometemos a segurança nem a protecção do nosso património.” O Mondrian e o Picasso ainda não foram recuperados.