terça-feira, 27 de novembro de 2012

Uma leitura de Ésquilo

Roubo em Olímpia: Peças Recuperadas

Passaram nove meses desde que dois homens armados e de máscara entraram no Museu de Olímpia, um dos centros arqueológicos mais importantes da Grécia, e roubaram 77 artefactos em bronze, ouro, cobre e cerâmica. Agora, as autoridades de Atenas anunciaram ter apreendido os objectos roubados, na sua maioria pequenas esculturas de animais. Os contornos da operação, como quase sempre que se trata de tráfico de antiguidades, parecem saídos de um filme. 

A polícia prendeu três dos suspeitos na sexta-feira, num hotel da cidade de Patras, depois de um agente à paisana se ter feito passar por um potencial comprador. Um dos homens, que segundo a agência de notícias AFP acabou por divulgar a identidade dos seus cúmplices, tentou negociar a venda de um anel de ouro com 3200 anos: começou por pedir 1,5 milhões de euros e acabou por aceitar 300 mil. Os outros dois esperavam-no no átrio do hotel. Em seguida, a polícia recuperou os restantes artefactos, muitos com mais de três mil anos – estavam num saco e enterrados numa zona rural nos arredores da antiga cidade de Olímpia, a pouco mais de três quilómetros do museu. Entre eles há várias lucernas, vasos de cerâmica e estatuetas dos atletas que participavam nas corridas de cavalos e touros. 

Os ladrões já detidos são de nacionalidade grega, têm entre 36 e 50 anos e alguma experiência no tráfico de antiguidades. Dois deles são desempregados e o terceiro é um construtor civil de Patras. As autoridades, que estão ainda à procura de dois outros cúmplices, garantiram numa conferência de imprensa no sábado, em Atenas, que todos os artefactos roubados na manhã de 17 de Fevereiro foram recuperados. Mas a equipa do museu arqueológico da cidade onde nasceram os Jogos Olímpicos quer examinar cuidadosamente cada uma das peças para se certificar de que o conjunto está completo. Diz a BBC online que as peças deverão chegar ao museu durante esta semana. 

“Hoje é um dia extremamente importante e feliz para o Ministério da Cultura e a comunidade arqueológica”, afirmou no sábado a secretária-geral do Ministério da Educação, Cultura e Desporto, Lina Mendoni, citada pela agência Xinhua. “No meio de uma onda de publicidade negativa em relação à vida da Grécia e dos gregos, que já dura há dois anos, este é um momento luminoso. Estes objectos fazem parte da nossa história”, disse Maria Panagopoulou, habitante de uma aldeia próxima do estádio de Olímpia, à agência de notícia chinesa. “Com o roubo, sentimos que parte do nosso coração tinha desaparecido. Agora está outra vez no lugar.”

O roubo no Museu de Olímpia, o primeiro desde que abriu no edifício onde hoje se encontra, em 1982, foi imediatamente ligado à crise que a Grécia atravessa. Os cortes orçamentais no Ministério da Cultura têm levado a despedimentos de guardas e vigilantes de museus e sítios arqueológicos um pouco por todo o país. Quando os ladrões entraram no museu arqueológico, apenas uma segurança estava a trabalhar e não foi difícil amarrá-la, apesar de ter oferecido resistência, disseram na altura as autoridades locais. O roubo em Olímpia foi particularmente embaraçoso para o governo de Atenas porque aconteceu apenas um mês depois de a Galeria Nacional de Arte, na capital, ter sido assaltada – foram levadas duas pinturas, uma de Picasso e outra de Mondrian. Perante as críticas à falta de segurança no património grego, o ministro da Cultura, Pavlos Geroulanos, pediu a demissão, que não foi aceite. 

No sábado, o governo procurou tirar dividendos da operação policial que levou à detenção dos assaltantes de Olímpia. O ministro Nikos Dendias garantiu: “Mesmo no mais difícil dos cenários nós não comprometemos a segurança nem a protecção do nosso património.” O Mondrian e o Picasso ainda não foram recuperados.

notícia retirada daqui.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Insulae Accipitrinae

O novo secretário regional da Educação e Formação dos Açores, Luiz Fagundes Duarte, anunciou esta quarta-feira a intenção de introduzir as disciplinas de latim e grego clássico nas escolas, a título de opção. O governante, que falava na apresentação do programa do Governo para os próximos quatro anos, que está em discussão no plenário da Assembleia Legislativa dos Açores, na cidade da Horta, entende que é necessário "reforçar a componente humanística" dos alunos. "Será incentivada a reintrodução gradual, e de acordo com as disponibilidades de docentes e com os projetos pedagógicos das escolas, da disciplina de Latim e mesmo do Grego clássico, em regime de opção", sublinhou.

ler o resto da notícia aqui.

domingo, 25 de novembro de 2012

Aristófanes Fala

Quando Denis [Dionísio], de Siracusa, pediu a Platão documentos sobre a vida grega, colectiva e natural, recebeu minhas comédias e não as tragédias de Ésquilo, Sófocles, Eurípides. A Grécia estava ali, completa e viva, em tamanho real, nas dimensões dos vícios e das virtudes. Continuaram contemporâneas. Ainda comovem, irritam, enternecem. Fazem rir. E são apenas onze. Venceram mais de dois mil anos! [...] Outro elemento, desaparecido na maré-montante das convenções e restrições da Etiqueta presente, era a Linguagem usada pelos nossos atores e declamada pelo coro. Vibrava e agia inalterada e natural como se cada cidadão estivesse no palco. Não evitávamos vocábulos expressivos e menos ainda claras alusões às intimidades verídicas da vida doméstica. Mesmo que a concepção temática fosse alta e nova, como Nuvens, Rãs, Vespas, Pássaros, não empregávamos jamais dois vocabulários, como fazem os civilizados de agora, uma língua no palco e outra nas casas, ruas e praças, mercados e palácios, sendo realmente uma única. Vivíamos, verbalmente. A continuidade realística das vozes habituais. As nossas damas e matronas ouviam no palco o que sabiam existir nos costumes familiares. Apenas, nunca essa liberdade vocabular constituía o fundamento sedutor da peça. O nosso pudor tinha outros recatos e símbolos. As frases mais vivas caiam com naturalidade e no justo momento irrecusável. Por isso os tradutores, com moral ofendida e inocência ameaçada, fazem versão desses trechos do grego para o latim, ou avisam, anjos pulcros, que o período é intraduzível. Satanás reaceando brasas. Poseídon temendo afogar-se.

Câmara Cascudo, Prelúdio e Fuga do Real.
Fundação José Augusto, Natal: 1974, pp. 145-151.

sábado, 24 de novembro de 2012

Clássicos Subversivos


(cruzar com este post, a propósito do qual ler, já agora, este)
Metaxas [o ditador grego do Regime do 4 de Agosto (1936-41)] had been promoting ancient drama in the form of mass open-air spectacles, and he had received the public endorsement of writers such as Yeorgios Theotokas, a politically moderate intellectual, and others with more onservative political agendas who stressed the value of classical literature. Under Metaxas, too, the chauvinist presumption grew that revivals of classical tragedy had to uphold this treasured legacy of Greece's national, 'monumental' poetry. Metaxas further subjected theatre to state censorship and control of thought. He tried to ban, in particular, a National Theatre production of Sophocles' Antigone, because the heroine proclaimed disobedience to the self-serving laws of tyranny. Unable to cancel te scheduled performances, the government had certain 'inappropriate' lines cut from the script (Hamlakis 2007: 178; Van Steen 2001: 141). [n. 14]

[nota 14:] Metaxas also excluded the famous Funeral Oration of Pericles from school readings of Thucydides' History of the Peloponnesian War (2.34-47). The dictator did not want the new Hellenic generation to be brought up with the ideals of freedom and democracy as expounded by the ancient Greeks:
In the teaching of ancient Greek in the 6th High School grade, omit the funeral oration of Pericles, substituting this with some Platonic dialogue, because the funeral oration, truthfully grand of democratic ideas, may be misunderstood by the students as indirect criticism of the vigorous governmental policy and, in general, of the trend of the present State... [T]here exists the probability that these pages will produce the same ruinous and disintegrating results that they did during the period of the Peloponnesian War, when they were recited to the unstable populace of Athens by the great Pericles, who presented so brilliantly the victories of democracy to the intellectually unprepared Athenian rabble... [excerto da directiva estatal da autoria de D. Papoulias mas em nome de Metaxas].  
Gonda Van Steen, Theatre of the Condemned. 
Classical Tragedy on Greek Prison Islands. Oxford 2011: 43-44.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O Cáucaso é no Egeu

mulheres em Trikeri
Even though the Prometheus production [na ilha de Trikeri, campo prisional a céu aberto para mulheres que haviam apoiado, directa ou indirectamente, os comunistas na Guerra Civil Grega] did not go beyond the dress rehearsal stage, the tragedy itself warrants a closer look in the light of its reception by the Greek Left, or of some of the older uses of the hero as symbol. Hariati-Sismani [uma das prisioneiras que colaborou na peça] left no doubt as to how she and her fellow inmates read Prometheus' character and condition:
For us, Prometheus was he who does not sign a 'declaration' [of repentance], who accepts to stay nailed to his rock and to remain in his martyrdom, just like us, rather than yield to violence... Prometheus was us and all the words of the drama fit us like a glove. We called Hermes 'the errand boy'. Hephaestus was the worker who forges his own bounds. And Oceanus? That was my uncle, who had written to me, a few days earlier, to urge me to repent. (1975: 24).
Hariati-Sismani had intentionally dressed the Prometheus of the play in a deep red chiton (1975: 25). This 'red' Prometheus did not succomb to the pressure to sign a 'declaration of repentance'. [...] Sucessive Greek right-wing governments coaxed or terrorized political prisoners into signing a recantation or renunciation of their ideological beliefs, called a dílosi metanoías [δήλωση μετανοίας]; or, short, a dílosi. [...] Many detainees, especially on Makronisos, caved in under psychic and/or bodily torture to sign such a declaration and became 'dilosíes', which often opened up a whole new set of requirements: from composing hideous confession statements to denouncing their former comrades, to assisting in the process of 'breaking' others (to translate the modern Greek expression for 'torturing').

Gonda Van Steen, Theatre of the Condemned. 
Classical Tragedy on Greek Prison Islands. Oxford 2011: 119-120.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Glosae

For all that has been said since the 1960s  with special and especially democratic dedication to the reader's  freedom    about  multiple  meanings  as  a  potential  of  any  individual  text  and  about interpretation  as  a  never-ending  task,  for  all  those  very  sophisticated  and  sometimes  overly  complicated pictures of the act of interpretation, I think that in our everyday practice we take interpretation as a task that can and normally will be brought to a conclusion. We expect that, in the average case of an interpretation, there will be a moment when we know that we have understood  the  text  or  other  artifact,  and  we  normally  associate  understanding  with  the impression  that  we  now  know  what  the  author  wanted  this  text  to  mean  or  be. 

This assumption  about  the  normally  finite  character  of  interpretation,  I  believe,  explains  its triumphant career as a core exercise for homework assignments and written tests in secondary education.  Commentary,  in  contrast,  appears  to  be  a  discourse  that,  almost  by  definition, never reaches its end. Whereas an interpreter cannot help extrapolating an author-subject as a point of reference of his or her interpretation (and cannot help giving shape to this reference as the interpretation progresses), a commentator is never sure of the needs (i.e., the lacunae in the  knowledge)  of  those  who  will  use  the  commentary.

However  carefully  you  cater  to  the needs  of  your  contemporaries  among  the  potential  readers  of  a  text  in  question,  you  can never anticipate exactly what will have to be explained for readers of the next generation, and it  is  mainly  this  condition  that  makes  commentary  a  constitutively  unfinished  exercise  and discourse.  Not  surprisingly,  then,  the  history  of  the  word commentary yields  too  many different meanings  and therefore too vague a meaning  to suggest a more precise definition. 

And does this general flavor of vagueness not go together with an impression that users of commentaries almost always have, namely (and to exaggerate only slightly), that any given commentary offers all kinds of interesting bits and pieces of knowledge but hardly ever  that  one  piece  of  information  that  you  needed and  whose  need  made  you  consult  the commentary in the first place?

Hans Ulrich Gumbrecht. The Powers of Philology. University of Illinois Press (2003).

[Brasília] XIX Congresso Nacional de Estudos Clássicos


Associação Portuguesa de Estudos Clássicos tem o gosto de divulgar o XIX Congresso de Estudos Clássicos, tendo como anfitrião e entidade organizadora a nossa congénere, Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos (SBEC) , a realizar na 2ª semana do mês de Julho de 2013.

A APEC não pode deixar de se congratular por esta iniciativa, pioneira em termos organizativos, congregando uma efectiva participação de instituições nacionais, do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos e da Associação Portuguesa de Estudos Clássicos, ocasião também de consolidação dos laços entre a comunidade lusófona dos Estudos Clássicos que tem vindo a ser construída em torno de projectos de docência e de investigação, com um intenso intercâmbio de estudantes.

Pesem os tempos mais agrestes vividos no nosso país, convidamos os estudiosos, profissionais e amantes dos Estudos Clássicos e do Mundo Antigo a seguirem de perto a organização deste evento (ver página web www.sbec2013.org) e a aproveitarem o nosso Verão para programarem uma deslocação a Brasília na data prevista, seja enquanto participantes activos dos painéis de comunicantes, seja enquanto assistentes.

Mediante a manifestação dos interessados comunicada à APEC (apecclassicos@gmail.com) , e atingido um determinado número, a APEC pode auxiliar na negociação, com uma agência de viagens, de um pacote de viagem e estadia mais atrativo para os que pretenderem associar-se.

Cordialmente,
A Direção da APEC
Paula Barata Dias
 
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A Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos (SBEC) anuncia a realização de seu XIX Congresso Nacional de Estudos Clássicos na cidade de Brasília, de 8 a 12 de Julho de 2013, com o tema "O futuro do passado".

Informações sobre modalidades de apresentação de trabalhos estão disponíveis no website do evento: www.sbec2013.org

O prazo final para inscrição de trabalhos é 15 de fevereiro de 2013.

A SBEC firmou no evento uma parceria científica com a sociedade-irmã Associação Portuguesa de Estudos Clássicos (APEC), acrescentando assim ao seu XIX Congresso Nacional a nomenclatura de I Simpósio Luso-brasileiro de Estudos Clássicos.

Esperamos vê-los em breve em Brasília!
Gabriele Cornelli

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

'Édipo', de Séneca, na Artefacto


ÉDIPO, de Séneca
tradução de Ricardo Duarte

apresentação por Cristina Pimentel e Cláudia Teixeira

19 de Novembro 2012
Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa
Anfiteatro 2 - 17h