Diz-me, por favor, Lucílio: porque há-de um homem temer o sofrimento, porque há-de um ser humano recear a morte? Estou farto de encontrar pessoas que não acreditam que seja possível alguém fazer o que elas próprias são incapazes de fazer; segundo elas, as nossas doutrinas excedem as possibilidades da natureza humana. Dessas pessoas eu tenho melhor opinião do que elas próprias: todas elas são capazes de seguir a nossa teoria, só que não o querem. Ao fim e ao cabo, quem é que alguma vez a tentou seguir que se tenha visto traído por ela? Quem é que não a achou mais fácil de pôr em prática do que parecia? Não, não é porque a teoria seja difícil que não ousamos praticá-la; pelo contrário, por nós não ousarmos praticá-la é que ela se nos afigura difícil!
Séneca, Cartas a Lucílio XVII-III.104.25-26
Gulbenkian, Lisboa: 2009. (trad.: J. A. Segurado e Campos)
[Quid est, obsecro te, Lucili, cur timeat laborem vir, mortemhomo? Totiens mihi occurrunt isti qui non putant fieri posse quidquid facerenon possunt, et aiunt nos loqui maiora quam quae humana natura sustineat. [26] At quanto ego de illis melius existimo! ipsi quoque haec possunt facere, sed nolunt. Denique quem umquam ista destituere temptantem? cui non faciliora apparuere in actu? Non quia difficilia sunt non audemus, sed quia non audemusdifficilia sunt.]
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