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Num livro em que abundam as referências literárias, explícitas ou implícitas, é impossível ignorar o diálogo com a Ilíada. Tal como o poema de Homero, dividido em 24 cantos, Zona é composto por 24 secções. E há personagens do cerco de Tróia que invadem a longa frase contínua que Francis vai desdobrando na sua mente, durante a travessia nocturna de Itália. Não se procure, porém, analogias directas como as que Joyce estabeleceu com a Odisseia no seu Ulisses. Aqui, a intenção era outra: «Quis mostrar que existe de facto uma certa continuidade, pelo menos no plano literário, entre a forma como Homero mostrou a guerra na Ilíada e a guerra tal como ela é vivida pelos combatentes actuais. Claro que em Homero já encontramos tudo: a coragem, a cobardia, a dor, as feridas, a grande excitação que o combate provoca. Os códigos sociológicos é que não são os mesmos. Deixámos de viver num mundo governado pelos deuses, mas muitas coisas permanecem.» Mais do que paradigmas narrativos, Énard procurou um elo com o passado mais remoto da nossa civilização: «Apoiei-me em Homero, não para escrever como ele, mas com ele.»
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