No primeiro canto da Ilíada, quando Aquiles, ultrajado pela arrogância poderosa de Agamémon, se retira do combate, suplica à sua divina mãe que por ele interceda junto de Zeus. Mas ele sabe, e ela sabe-o também, que esta ajuda não será jamais por outra coisa que não a honra do herói (ou então, na perspectiva homérica: esta ajuda será pelo mais caro dos presentes, a honra &a glória de Aquiles): a salvação, a vida não lhe poderá jamais salvar, a partir do momento em que Aquiles trocou uma vida longa por uma glória longa. Tétis sabe que isto é tudo aquilo que a alma de Aquiles poderia alguma vez almejar supremamente, mas a humanidade da escolha não deixará de a atacar. Não consegue não se rebelar em palavras contra o destino daquele a quem criou e que sabe que chora por uma glória que a partir deste momento será sinónima da sua morte. Estas são as suas palavras.
Ai de mim, meu filho, porque te criei, mãe em infelicidades?
Quem dera que pudesses junto às naus sem chorar ou dor alguma
Permanecer, pois a vida que te cabe é breve, mesmo nada longa;
Mas agora para uma vida curta e miserável mais que todas
Te encaminhas; é-te então mui vil a vida que gerei na minha corte.
Ὤ μοι τέκνον ἐμόν, τί νύ σ' ἔτρεφον αἰνὰ τεκοῦσα;
αἴθ' ὄφελες παρὰ νηυσὶν ἀδάκρυτος καὶ ἀπήμων
ἧσθαι, ἐπεί νύ τοι αἶσα μίνυνθά περ οὔ τι μάλα δήν·
νῦν δ' ἅμα τ' ὠκύμορος καὶ ὀϊζυρὸς περὶ πάντων
ἔπλεο· τώ σε κακῇ αἴσῃ τέκον ἐν μεγάροισι.
Ilíada, I 414-418
(tradução minha)
imagem: Tétis Consolando Aquiles, de Giovanni Battista Tiepolo
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