domingo, 29 de abril de 2012

They Told Me You Were a Scholar

A Man For All Seasons (1966), de Fred Zinnemann, vencedor de seis óscares no seu ano, entre os quais o de melhor filme, ainda que seja uma produção clássica de Hollywood, absolutamente convencional na sua gramática, com uma narrativa linear mas um guião inteligente. Sucumbiria, porém, não fora a força dos seus actores, que dão ao filme muito da sua glória. Margaret, de seu nome de casada Margaret Roper, foi uma das mulheres mais cultas do século XVI, tendo-se correspondindo com Erasmo (chegou a descobrir um erro no latim deste, uma vez), cuja obra Precatio Dominica traduziu para inglês aos dezanove anos. A ela devemos ainda a conservação dos textos (sobretudo as famosas cartas) do tempo da prisão do seu pai (Thomas More). A wikipedia alemã tem um extenso artigo sobre ela, em que os curiosos poderão, com a ajuda do Google Translate, encontrar mais informações. 

sábado, 28 de abril de 2012

O Que Lêem Os Nossos Políticos

A presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, defende que a União Europeia deve “olhar para todos os Estados membros com a mesma isenção e neutralidade com que Homero na sua Ilíada tratou Aquiles e Heitor, gregos e troianos”.

Do lado troiano, sobressai em toda a sua grandeza a figura de Heitor, ao mesmo tempo heróica e humana. É modelo de filho, de marido, de pai, de cidadão. Luta pelo seu país e pela sua família, não apenas para alcançar honra pessoal, como Aquiles. Este tratamento do herói máximo da facção inimiga é a mais antiga prova da imparcialidade — direi mesmo, da superioridade moral grega*. Não será a última.
*Quando Heitor morre às mãos de Aquiles, e os Aqueus finalmente ousam aproximar-se para o verem de perto, o seu primeiro movimento é de admiração pela beleza física do inimigo (XXII.367-371)

Maria Helena Rocha Pereira, 
Estudos de História da Cultura Clássica - I Volume: Cultura Grega.
Gulbenkian, Lisboa: 2006 (pg. 78).

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Colóquio: Revisitar o Mito


COLÓQUIO INTERNACIONAL
REVISITAR O MITO

2-5 de Maio, 2012
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

Entrada Livre
Para inscrição com direito a pasta de materiais e certificado de presença: 25€

Conferencistas Plenários
Arthur W. Frank (University of Calgary)
Emilio Suarez (Universitat Pompeu Fabra)
Marina Warner (University of Essex)
Alessandro Zironi (Università di Bologna)

Zeus Egipto Io Dânao Argos Ésquilo Thíasos

[clicar para ampliar]

EM TORNO DAS DANAIDES
Colóquio a propósito da estreia das Suplicantes de Ésquilo pelo Thíasos 
Museu Nacional Machado de Castro, Coimbra 
4 de Maio de 2012 

PROGRAMA
10h: Cocktail de abertura
10h30: Maria do Céu Fialho (UC): Eros e identidade nas “Suplicantes” de Ésquilo 
11h: Frederico Lourenço (UC): Canto e lirismo nas “Suplicantes” de Ésquilo
11h30: Maria de Fátima Sousa e Silva (UC): Efeitos de cena nas “Suplicantes” de Ésquilo
12h: Carlos A. Martins de Jesus (UC): Além de Ésquilo: a catarse das Danaides na literatura e nas artes plásticas (Leitura diacrónica e intersemiótica)
12h30: Discussão alargada
13h-14h30: Almoço
14h30: Lia Nunes (encenadora): “As Suplicantes” em cena: tragédia e políticas de uma súplica. 
15h: Mesa redonda com o tradutor, a encenadora, os atores e a restante equipa da peça.

21h30: As Suplicantes de Ésquilo, pelo Thíasos (estreia) – entrada livre. 

terça-feira, 24 de abril de 2012

Their Minions

Edward II (1991), de Derek Jarman
Nephew, I must to Scotland: thou stayest here. 
Leave now to oppose thyself against the King: 
Thou seest by nature he is mild and calm; 
And seeing his mind so dotes on Gaveston, 
Let him without controlment have his will. 
The mightiest Kings have had their minions 
Great Alexander loved Hephaestion, 
The conquering Hercules for Hylas wept, 
And for Patroclus stern Achilles droop'd. 
And not kings only, but the wisest men; 
The Roman Tully loved Octavius, 
Grave Socrates wild Alcibiades. 
Then let his grace, whose youth is flexible, 
And promiseth as much as we can wish, 
Freely enjoy that vain lightheaded earl; 
For riper years will wean him from such toys.

Marlowe, Edward II, Acto I, Cena IV

segunda-feira, 23 de abril de 2012

[C3 #2] Ciclo Clássicos no Cinema: 'Violência e Paixão', de Luchino Visconti (1974)

O ciclo Clássicos no Cinema continua agora com Violência e Paixão (1974) de Luchino Visconti, depois da apresentação na semana passada de Sebastiane. Como já antes aqui explicáramos, a sessão inclui  uma apresentação do filme escolhido pelo próprio convidado, José Pedro Serra neste filme, complementada, após a visualização do próprio filme, pelos comentários iniciais de Ana Maria Tarrío e de Victor Gonçalves.



VIOLÊNCIA E PAIXÃO, de Luchino Visconti (1974)
apresentado por José Pedro Serra
com Ana María Tarrío e Victor Gonçalves no debate final

26 de Abril, 16h
Sala de Vídeo, Faculdade de Letras, Lisboa

terça-feira, 17 de abril de 2012

Amanhã | Lisboa [C3 #1]



SEBASTIANE, de Derek Jarman (1976) 
apresentado por Nuno Simões Rodrigues 
com Tatiana Faia e João Diogo Loureiro no debate final 

18 de Abril, 15h 
Sala 2.14, Faculdade de Letras, Lisboa

sábado, 14 de abril de 2012

[Aeneida] embora lembrar seja horrível à alma refugiada do luto




Calaram-se todos e concentraram a sua atenção;
então o pai Aeneas levantou-se do leito elevado:
"É indizível, rainha, a dor com que obedeço recordar
como todo o poder e o lamentável reino Troiano
foi pelos Danáos arrasado; tudo misérias que presenciei
e das quais fui parte importante. Quem seria capaz de o ouvir,
mesmo um Myrmidão, um Dolopos, ou um soldado do cruel Ulisses
sem derramar lágrimas? E já sobre o céu a húmida noite
se precipita, e as estrelas poentes impelem ao sono.
Mas se tão grande é o teu amor por conhecer a nossa aventura
e por ouvir em poucas palavras as derradeiras desgraças de Tróia,
embora lembrar seja horrível à alma refugiada do luto,
aconteceu assim—

Vergílio. Aeneida. 2.1-14. Tradução minha.



conticuere omnes intentique ora tenebant
inde toro pater Æneas sic orsus ab alto:
Infandum, regina, jubes renovare dolorem,
Trojanas ut opes et lamentabile regnum
eruerint Danai, quæque ipse miserrima vidi
et quorum pars magna fui. quis talia fando
Myrmidonum Dolopumve aut duri miles Ulixi
temperet a lacrimis? et jam nox umida cælo
præcipitat suadentque cadentia sidera somnos.
sed si tantus amor casus cognoscere nostros
et breviter Trojæ supremum audire laborem,
quamquam animus meminisse horret luctuque refugit,
incipiam.

Pan


As seis Metamorfoses de Britten a partir de Ovídio estão disponíveis aqui noutra versão.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

'Sobre o Agamémnon de Ésquilo', de Victor Gonçalves

Fora disto, com Ésquilo regressamos à Grécia, não à caricatura em que se transformou actualmente, mas a uma Grécia mítica, embora situada na história. A Grécia Trágica, antes do socratismo estético – racionalização dos sentimentos, emoções e valores –, continua a fascinar. Esquecemos (numa táctica a que os franceses chamam “forclusion”) as pequenas determinantes do dia-a-dia, o que havia de humano, demasiado humano, e emolduramos uma maneira de viver que se arriscava constante e inelutavelmente na morte para se inscrever no panteão da glória. Continuamos a comemorar essa cultura do heróico, muitas vezes contra a verdade (o seu lado risível) que facilmente nos dão uma filologia ou arqueologia. Percebemos que mais do que regressar à Grécia, queremos viver a hipótese de outra humanidade.

[C3 #1] Ciclo Clássicos no Cinema: 'Sebastiane', de Derek Jarman (1976)

Depois da segunda edição do Projecto PI, em Fevereiro-Março, a Origem da Comédia organiza este ano um ciclo de cinema de tema clássico, intitulado Clássicos no Cinema, com seis sessões, as primeiras quatro em Lisboa e as duas últimas em Coimbra. Os filmes serão apresentados por um convidado (o próprio que escolheu o filme a exibir), sendo que, depois do visionamento da fita, após dois breves comentários pelos outros membros da mesa, o público é convidado a activamente participar na discussão em torno da obra. Em breve contamos revelar aqui no blogue o plano completo do ciclo; por ora, anunciamos a primeira sessão:


SEBASTIANE, de Derek Jarman (1976)
apresentado por Nuno Simões Rodrigues
com Tatiana Faia e João Diogo Loureiro no debate final

18 de Abril, 15h
Sala 2.14, Faculdade de Letras, Lisboa

'Agamémnon': Apresentação FLUL

quinta-feira, 12 de abril de 2012

On Updating the Classics

On Updating the Classics

O Bibliotecário de Babel aponta-nos este artigo, sobre "actualizações dos clássicos", ou aquilo que nós comummente chamaríamos Estudos de Recepção. Fala em concreto de quatro livros.
  • A tradução da Ilíada de Stephen Mitchell, louvada pela dinâmica e criticada pelo abandono daqueles pontos mais inextricavelmente homéricos, como os epíthetos, que concede aos poemas tanto a sua graça como o seu peso.
  • Resgate, de David Malouf, de sedutora descripção, sendo pois uma extrapolação da breve viagem de resgate levada a cabo por Príamo pela graça do cadáver de Heitor. (Lembrei-me do José e Seus Irmãos, do Thomas Mann.)
  • The Song of Achilles, de Madeline Miller, uma renarração (como é que podemos melhor dizer retelling?) da Ilíada pelos olhos de Pátroclo, aqui assumido como amante de Achilles; criticado pelo autor do artigo como 'soft porn'.
  • The Lost Books of the Odyssey, de Zachary Mason, o único da lista que li, um dos livros mais engraçados que li há dois anos atrás, um labyrintho borgesiano (é assim que se diz?) através da conjectura de a tradição oral da Odysseia poderia ter dado origem a muitos outros cantos, entretanto perdidos, e miríficos. (Ver também isto.)
  • The Infinites, de John Banville, uma adaptação do Amphitryon de Plauto através da ideia de mundos paralelos.
I can’t sit here in my living room on the west side of Manhattan, opining about what’s going to last. Things that last last for all kinds of reasons, and only one of them is how good they are. Things survive by accident that don’t get eaten by rats, or by computer viruses that haven’t even been invented yet because the computers they will eat haven’t been invented yet. So there’s no guarantee. Sappho composed poems that were collected in nine volumes in the Alexandrian library, of which we have exactly one complete poem left. I bet there were some good poems among the other eight volumes too.

terça-feira, 10 de abril de 2012

O Império Cita

XIV Festival de Teatro de Tema Clássico



- 19 de Abril de 2012, 5a feira, 21h00, Coimbra, Teatro Paulo Quintela (FLUC) 
Grupo Thíasos do IEC, As Suplicantes, de Ésquilo (estreia)

-2 de Maio, de 2012, 4ª feira, Museu Nacional Machado de Castro. 
10h – colóquio sobre As Suplicantes
21h00 – Grupo Thíasos do IEC, As Suplicantes de Ésquilo

-12 de Maio de 2012, Sábado, Teatro Municipal de Rio Maior, 21h00 
[Grupo escolar], As Mulheres no Parlamento, de Aristófanes

-15 de Maio de 2012, 3ª feira, Ericeira, Museu Arqueológico de S. Miguel de Odrinhas, 11h00 
Grupo Thíasos do IEC, As Suplicantes, de Ésquilo

-15 de Maio de 2012, 3ª feira, Lisboa, Faculdade de Letras, FLUL, 18h00 
Grupo Thíasos do IEC, As Suplicantes, de Ésquilo

-17 de Maio, de 2012, 5ª feira, Museu Nacional Machado de Castro, 21h30 
Grupo Canto e Drama, Dido e Eneias, de Purcell.

- 9 de Junho, de 2012, Sábado, Museu Monográfico de Conímbriga
Grupo Thíasos do IEC, A Sogra, de Terêncio, 21h30

-30 de Junho, de 2012, Sábado, Museu da Fundação Dionísio Pinheiro, Águeda 
Grupo Thíasos do IEC, A Sogra, de Terêncio, 15h30
Grupo Thíasos do IEC, As Suplicantes, de Ésquilo, 21h30

- 5 ou 6 de Julho de 2012, 5ª feira, 21h30, Penela [aguarda confirmação] 
Grupo Thíasos do IEC, A Sogra, de Terêncio

- 7 de Julho, Sábado, Braga, Museu D. Diogo de Sousa (Mimarte), 21h30
Grupo Thíasos do IEC, A Sogra, de Terêncio

- 8 de Julho, Domingo, Braga, Museu D. Diogo de Sousa (Mimarte), 21h30
Grupo Thíasos do IEC, As Suplicantes, de Ésquilo

-10 de Julho de 2012, 3ª feira, Mostra de Teatro Universitário, Teatro Académico de Gil Vicente
Grupo Thíasos do IEC, A Sogra de Terêncio.

- 11 de Julho de 2012, 4ª feira, Museu Monográfico de Conímbriga, 21h30
Grupo Selene, As Mulheres no Parlamento de Aristófanes

-12 de Julho de 2012, 5ª feira, Museu Nacional Machado de Castro, Coimbra, 21h30
Grupo Selene, Electra de Sófocles.

-13 de Julho de 2012, 6ª feira, Mostra de Teatro Universitário, Teatro Académico de Gil Vicente
Grupo Thíasos do IEC, As Suplicantes de Ésquilo

Extensão de Outono – Novembro de 2012 
Grupo Thíasos do IEC, A Sogra, de Terêncio
Grupo Thíasos do IEC, As Suplicantes, de Ésquilo

'Agamémnon', de Ésquilo - Apresentação em Coimbra


AGAMÉMNON, DE ÉSQUILO
apresentação do livro a cargo de Carlos de Jesus 
com a presença do tradutor, José Pedro Moreira

11 de Abril, 16h
Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos (5º piso)

a apresentação será precedida da leitura de alguns excertos da obra

segunda-feira, 9 de abril de 2012

De Rerum Natura - Invocação de Vénus



Aeneadum genetrix, hominum divumque voluptas,
alma Venus, caeli subter labentia signa,
quae mare navigerum, quae terras frugiferentes
concelebras, per te quoniam genus omne animantum
concipitur visitque exortum lumina solis.

Criadora dos filhos de Eneias, prazer dos Homens e Deuses,
Mãe Vénus! sob as estrelas errantes do céu
no mar navegável e na terra fértil espalhas
vida — pois é por ti que tudo quanto respira
é concebido e contempla ao nascer a luz do sol.

Lucrécio. De Rerum Natura. I.1-4. Tradução minha.

a Ilíada e Herculanum em contra-relógio.

Dois documentários sobre a perservação do património clássico.


O primeiro sobre a digitalização do famoso codex Venetus A, o mais importante e belo manuscripto que nos chegou da Ilíada, completo com os scholia (as valiosas anotações ao texto que começaram a ser acumuladas desde os comentadores alexandrinos (um bom livro sobre ler e perceber scholia [aqui]). Trazido pelo cardeal Bessarion, o ilustre discípulo de Gemistus Plethon de Byzantium até Venezas, cuja locupleta biblioteca de manuscriptos gregos, os tesouros de Constantinopla, se transformou no brilhante embrião da famosa Biblioteca Marziana, o Venetus A toca-nos pela sua fragilidade; a preservação contra a obliteração hac, a necessidade de salvaguardar as palavras nele contidos illac são o foco do primeiro documentário.




O segundo, bastante mais breve, discorre sobre os misteriosos papyros de Herculanum. A explosão do Vesúvio em AD79 não destruiu apenas a famosa cidade de Pompeios. Uma das vagas de lava arrasou também a cidade flanqueada de Herculanum, mais opulenta que Pompeios, cuja população foi principalmente massacrada após fugir para as praias enquanto esperava ser resgatada pela frota de Plínio. Dentro da cidade existia porém a casa do philósopho epicurista Philodemo; onde há philósophos há livros (χαίρε, ὦ Πλάτων!), e, sempre que possível, bibliothecas. Como era de costume até nas bibliotecas públicas romanas, a biblioteca deste Philodemo estava dividida em secção Latina e secção Grega. A secção Grega já foi completamente escavada, e os papyros carbonizados começaram a ser desvendados e lidos, através de técnicas desde os finais do século XIX que permitissem a leitura sem destruição daquilo que é, para todos os efeitos, papel em cinza. O número de papyros gregos a que conseguimos ter acesso é considerável, mas muito ainda falta por desvendar; nomeadamente, partes da secção latina da bibliotheca permanecem enterradas, deixando em aberto o que poderíamos encontrar: podemos sonhar ainda com a descoberta dos presumíveis livros do poema De Rerum Natura de Lucrécio (que com grande probabilidade era destas cidades, Pompeios ou Herculanum, originário) que faltassem no único manuscripto que sobreviveu até à idade Renascida, descoberto por Poggio Bracciolini e prontamente desaparecido em condições suspeitas. Podemos ainda suspeitar, esperançar, encontrar mais dos escritos de Demócrito e Epicuro junto dos manuscriptos gregos ainda cerrados. É também desta bibliotheca que nos chega o único autógrafo de toda a antiguidade, a saber a única linha que podemos ter a certeza virtualmente absoluta de que se trate de algo escrito por alguém a quem demos um nome: num dos papyros encontramos, numa espécie de guestbook dos convidados duma qualquer festa ou sarau, a seguinte palavra, Ὀυεργίλιος. Vergilius, cuja presença nesta área atestamos por fontes histórias, e cuja probabilidade de ter frequentado um grande ponto de cultura philosóphica epicurista é imensa.

São duas aproximações diversas à tradição da cultura e das letras clássicas. O caso do Venetus A é, apesar de tudo, diferente: trata-se de perservar o aspecto físico duma obra de arte palmar, até aos mais ínfimos detalhes, contra o tempo. Desejamos perservá-lo pela mesma razão que desejamos perservar templos, e ruínas. Mas é uma batalha perdida: salvar fotografias dum manuscripto não salvará o manuscripto, da mesma maneira que recriar o Parthénon nos Estados Unidos não salvará o Parthénon; conseguimos salvar os textos (principalmente, como no documentário, graças aos raios-x resgatar as palavras já-indecifráveis), e isso é uma vitória. Mas Herculanum é, apesar de tudo, algo de mais: falamos aqui de palavras que há milénios que não são lidas, e que poderão perder-se com a facilidade dum toque - quando a Villa dos Papiros foi pela primeira vez escavada, os filólogos tentaram abrir os papyros, destruindo muitos, até o rei em Nápoles ordenar que se cessasse. Mas não deixa de ser contra-relógio. Um amante da antiguidade que não fica comovido com estes esforços terá certamente uma visão defeituosa dos elos que simultaneamente nos ligam aos antigos e os mantêm à força longe de nós. Queiram Mercúrio e Fortuna auspiciar.




domingo, 8 de abril de 2012

[FLUL] Dicionário de Literatura Latina



Apercebi-me como de costume com atraso que a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa oferece para consulta o presente Dicionário de Literatura Latina, de utilização exclusivamente online. Apesar de ainda estar bastante incompleto (a uma primeira busca falhou-se-me Lucrécio, Propércio, Catão), o formato adoptado se bem entendi, algo semelhante à Stanford Encyclopedia of Philosophy, isto é,  artigos distintos salvaguardados por peer-review promete que essas lacunas sejam rapidamente suprimidas e que adquiramos um excelente online para Literatura Latina em língua portuguesa.

O próprio site diz-nos:
Mais do que um repositório de conhecimento, o Dicionário de Literatura Latina visa a ser um instrumento de trabalho útil a todos os que se interessam pelo estudo da Antiguidade Clássica e traduz o esforço da divulgação da cultura científica que tem norteado as linhas programáticas do Centro de Estudos Clássicos (CEC). 
Foi precisamente tendo em vista a prossecução desse objectivo que para o DLL, inicialmente pensado para ser concebido em papel e estruturado em diferentes volumes temáticos, se optou antes por uma versão online. É que não só ela permite uma mais rápida e prática consulta, mas também oferece ainda a possibilidade de um constante aperfeiçoamento de cada entrada, na medida em que os visitantes do sítio são convidados a enviar, sempre que julguem relevante, sugestões de complemento da informação aí contida. 
Trata-se, portanto, de um verdadeiro work in progress, para o qual se conta com a colaboração de todos.
Agradecemos ao Centro de Estudos Clássicos da FLUL, e prometemos também nós contribuir dentro das nossas módicas faculdades. Agora façam um de grego!