My Son, My Son, What Have Ye Done? (ou, em português — será que o tradutor não percebeu o impacto poético da repetição da apóstrofe, a rima ou o ritmo quase-fúnebre, lento, badalado do som /-ŭn/? —,
Meu Filho, Olha O Que Fizeste!,
um título que compete em parolice com o daquele opúsculo do jovem Camilo, Maria Não Me Mates Que Sou Tua Mãe!), o último de Werner Herzog, em torno do caso real de um homem que, depois de fazer o papel de Orestes nas Euménides, de Ésquilo, mata a mãe.
Tantos bons tradutores no desemprego e andam aí esses tostas a cuspir marretadas na língua... Se eu não soubesse o título original ia jurar que estava perante uma versão paternalista de um "American Pie" ou um remake de um terror de faca e alguidar estilo "Sei o que fizeste o Verão passado"! Mas não. É mesmo "não sei o que fazer a estes tradutores assassinos da poesia"! Saberão eles o que fazem?
ResponderEliminarTenho de ir ver isto ;)
ResponderEliminarFoi agora ao site do Público, eles dizem que o filho é inspirado pelo peça de Sófocles. Não se faz.
ResponderEliminarRita, e eu já não referi o "ye" do título original, que concedo que é difícil verter para português. Só faltava terem traduzido: "Meu filho, meu filho, arranjaste-me cá um sarilho!". Nestes casos, é preferível criar um título de raiz, opção da qual não sou muito adepto mas que existe precisamente para situações como estas.
ResponderEliminarTatiana, eu também iria ao cinema ver isto, precisava era só de ter tempo [série de imprecações contra todo o trabalho que ainda tenho pela frente]. Eu fui buscar a informação do filme à Wikipedia, e lá é que diziam que a peça que se vê a ser encenada no trailer era as Euménides e faz todo o sentido (talvez ainda fizesse mais sentido as Coéforas, mas, como não vi o filme, não quero opinar já). Mas consigo imaginar a conversa na redacção do jornal: «Olha, o Sófocles não tinha uma peça em que o herói dormia com a mãe e matava o pai? Ou era ao contrário?» «Ah! Isso esteve em cena com o Diogo Infante há pouco tempo. Eu penso que era ao contrário: que ele dormia com o pai e matava a mãe». «Pois, também me parecia. Deve ter sido nesse gajo que este tipo do filme se inspirou. Vou acabar o artigo para o site. Obrigado pela ajuda!» «De nada!».
Ou então podíamos ser um bocadinho benevolentes e assumir que estavam a pensar na Electra de Sófocles...
ResponderEliminarTambém me lembrei disso, mas, pela informação da wikipédia, o tipo tem o papel principal na peça, e não me parece que o Orestes seja o personagem central da "Electra". Mas, sim, em últim análise, visto que a wikipédia pode estar errada nesse pormenor do "actor principal", é perfeitamente possível que a peça em questão fosse a "Electra", mesmo se, claro, a Oresteia seria uma escolha muito mais óbvia, como paralelo para a acção do filme. O primeiro a ir ver o filme que ponha termo a esta discussão.
ResponderEliminarFilho Meu, Filho Meu, Que Fazes Tu A Eu? :(
ResponderEliminarThe plot thickens. Agora até o outro anda metido ao barulho.
ResponderEliminarThe film is based on the true story of Mark Yavorsky, a San Diego man who stabbed his mother to death, inspired by his recent role as Euripides' Orestes in a production of The Eumenides at University of California, San Diego. Or was it Aeschylus' version. Or maybe it was Electra, by Sophocles. (The Truth isn't very interesting anyway, so you can skip this bit.)
Eu não acredito. Eu fui várias vezes àquela página da wikipédia e nunca me tinha apercebido que eles tinham "Euripides' Orestes" lá escrito, lado a lado com as Euménides. O meu cérebro substituía automatiamente, por sugestão, Euripides por Aeschylus. Temo pelas minhas capacidades mentais. E começo a achar que na realidade o tipo do filme estava a encenar um cross-over: Oresteia + Electra + Orestes (isto lembra um pouco a tradução da Anne Carson), tudo em noventa minutos pela companhia reduzida do Chiado. Alguém vá ver o filme, por favor.
ResponderEliminarPois, a Electra também me ocorreu, mas só depois. Quando se pensa em Orestes pensa-se nas Coéforas e pelo resumo que eles têm no site do Público era o que faria mais sentido. Eu vou tentar ver se consigo ir vê-lo ainda esta semana.
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