Quinto Império, Manoel de Oliveira
(Parte II desta mensagem.)
A felicidade de Alcibíades não foi
demasiado duradoira: tinham-lhe sido atribuídas todas as honras
possíveis, e toda a república lhe tinha sido confiada tanto nos assuntos
civis como militares, para que pudesse ser regida por um só arbítrio; tinha ainda pedido que lhe fossem atribuídos dois pares,
Trasíbulo e Adimanto, e nem isso lhe foi negado. E então partiu com a
frota em direcção à Ásia, e como aí em Cymes as coisas não lhe correram
tão bem como esperava, regressou a suspeita contra ele. Pois até então
pensavam que não havia nada que ele não pudesse fazer; donde resulta que
por tudo o que acontecesse com menos prosperidade lhe atribuíam culpa, e
o acusavam de ter tomado as suas decisões ou de modo negligente ou até
mesmo malicioso. Chegavam até a dizer que não quis tomar Cymes por ter
sido corrompido pelo rei [dos reis; i.e. o Rei da Pérsia]. E portanto sou da opinião que as expectativas demasiado altas da sua inteligência e
virtude lhe foram em última instância danosas. Pois era amado não menos
do que era temido, e receavam que se a fortuna lhe fosse propícia e as
suas forças lhe bastassem o desejo de se tornar tyrano se tornasse
demasiado forte.
Haec Alcibiadi laetitia non nimis fuit diuturna. Nam cum ei omnes
essent honores decreti totaque res publica domi bellique tradita, ut
unius arbitrio gereretur, et ipse postulasset, ut duo sibi collegae
darentur, Thrasybulus et Adimantus, neque id negatum esset, classe in
Asiam profectus, quod apud Cymen minus ex sententia rem gesserat, in
invidiam recidit. 2 Nihil enim eum non efficere
posse ducebant. Ex quo fiebat, ut omnia minus prospere gesta culpae
tribuerent, cum aut eum neglegenter aut malitiose fecisse loquerentur;
sicut tum accidit. Nam corruptum a rege capere Cymen noluisse arguebant.
3 Itaque huic maxime putamus malo fuisse nimiam
opinionem ingenii atque virtutis. Timebatur enim non minus quam
diligebatur, ne secunda fortuna magnisque opibus elatus tyrannidem
concupisceret.
Cornélio Nepos. Vidas dos Homens Ilustres. Vida de Alcibíades [7]. Tradução minha.
Daqui surge a seguinte disputa: se é melhor ser amado que temido, ou se o inverso. Há quem responda que o melhor seria ser tanto um como outro, mas visto que é dificil conseguir os dois, é muito mais seguro ser temido do que ser amado, se nos devemos privar de uma das opções. Porque sobre os homens se pode genericamente dizer isto: são ingratos, volúveis, simuladores e dissimuladores, fugidores de perigos, ávidos de lucro; e que enquanto lhes fazes bem, estão completamente do teu lado, oferecem-te o seu sangue, as vestes, a vida, os filhos, como se disse acima, enquando a necessidade está longe; mas quando chega a hora revoltam-se. [...] E os homens têm menos pruridos em ofender alguém que se esforce por ser amado do que um que se faz temer; pois que o amor é sustido por um vínculo de obrigação, vínculo esse que, visto que os homens são desgraçados, se quebra em todas as ocasiões em que seria necessário; mas o temor é mantido por um medo de castigos que jamais desaparece. O príncipe deve apesar de tudo fazer-se temer de modo a que, se não conquista o amor dos seus súbditos, que ao menos fuja ao ódio; porque é muito bem possível ser ao mesmo tempo temido e não odiado; algo que conseguirá com facilidade desde que se abstenha de roubar os seus cidadãos e os seus súbditos, e das mulheres deles; pois os homens esquecem muito mais rapidamente a morte do pai do que a rapina do seu próprio património.
Maquiavel. Príncipe XVII. Tradução minha.
Nasce da questo una disputa: s’elli è meglio essere amato che temuto o
e converso. Respondesi che si vorrebbe essere l’uno e l’altro; ma
perché gli è difficile accozzarli insieme, è molto più sicuro essere
temuto che amato, quando si abbia a mancare dell’uno de’ dua. Perché
degli uomini si può dire questo generalmente: che sieno ingrati,
volubili, simulatori e dissimulatori, fuggitori de’ pericoli, cupidi di
guadagno; e mentre fai loro bene, sono tutti tua, òfferonti el sangue,
la roba, la vita, e figliuoli, come di sopra dissi, quando il bisogno è
discosto; ma quando ti si appressa e’ si rivoltano. [...] E li uomini hanno meno respetto a
offendere uno che si facci amare che uno che si facci temere; perché
l’amore è tenuto da uno vinculo di obligo, il quale, per essere li
uomini tristi, da ogni occasione di propria utilità è rotto; ma il
timore è tenuto da una paura di pena che non ti abbandona mai. Debbe nondimanco el principe farsi temere in modo che, se non
acquista lo amore, che fugga l’odio; perché può molto bene stare insieme
essere temuto e non odiato: il che farà sempre quando si astenga dalla
roba de’ sua cittadini e de’ sua sudditi e dalle donne loro; e quando
pure li bisognasse procedere contro al sangue di alcuno, farlo quando vi
sia iustificazione conveniente e causa manifesta; ma sopra tutto
astenersi dalla roba d’altri; perché
li uomini sdimenticano più presto la morte del padre che la perdita del
patrimonio.
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