“Somos todos gregos” - Konstantínos Kaváfis
Por isso hoje leio as notícias e entristeço profundamente. A Grécia é a ovelha negra da Europa e “parece ter peçonha”, como escrevia há tempos Baptista-Bastos. Todos a olham de soslaio, todos a repudiam e se mostram voluntariosos em mostrar o seu desfavor para com ela. A par da Europa política e económica que se desmorona, também a Europa “ética” se afunda. Onde está a solidariedade de facto de que falava Schuman? Uma utopia. Os gregos são a vergonha da Europa e é o “império germânico”, com a sua dux Merkel, que decide o seu futuro, que lhes ditam o que fazer e que os incluem ou excluem das suas decisões. Dir-se-ia que para os líderes europeus, com Merkel à cabeça, tudo o que é grego não interessa ( graecum est, non refert).
A Grécia, pelo que representa, jamais deveria estar sujeita a este desrespeito, fundado num capitalismo tão atroz quanto néscio. A curiosidade intelectual, a exploração da expressão literária e artística, mantêm-se e animam novas tarefas científicas e artísticas em todos os lugares em que os homens renovam o seu contacto com os Gregos, homens a quem a Natureza pôs numa caverna obscura e que, iluminados apenas pelo reflexo de uma fogueira - vendo dançar nas paredes a sombra vaga dos que lá fora passavam sob a luz do sol - empregaram todos os recursos do seu espírito em desprender-se dos grilhões que os encadeavam e vieram, eles também, banhar-se na claridade radiosa do grande sol doirado, no caminho livre. Os templos caem, dentro em pouco um fanatismo destruidor os deitará ao chão por completo, partirá estátuas, fará desaparecer as ofertas sagradas e nunca mais a flauta de Pã vibrará no ar ardente. Mas por todo o tempo ficará no homem – isso é certo - a saudade, o anseio de reencontrar essa Grécia divina onde se adoram, sobre todos os deuses, a Beleza e a Vida.
* Artigo publicado in Açores9, Jornal de distribuição gratuita na R.A.A.
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