O cisne
O cisne deu três voltas no seu lago.
Engomava o silêncio liquefeito...
A curva do perscoço, sobre o peito,
Tinha a doçura branca dum afago
De mão que desconserta a simetria...
Contam que Zeus, um dia,
Num desejo de amante insatisfeito,
Se vestiu da ilusão daquelas penas...
Quem me diz que a divina fantasia
Não encontrou a porta de saída,
E o cisne que ali passeia a vida
É um Júpiter de Atenas!...
Miguel Torga, Diário VI, 1953
in Poesia Completa, volume I, Dom Quixote, Lisboa 2007, p.476
Sociedade Civil
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