— Ele julga que inventou a estratégia — continuou a senhora de Guermantes — e depois utiliza palavras impossíveis para as mínimas coisas, mas nem por isso deixa de fazer borrões nas cartas. No outro dia disse que comeu umas batatas sublimes e que encontrara para alugar uma frisa sublime.
— Ele fala latim — disse o duque, indo mais longe.
— Como, latim? — perguntou a princesa.
— Palavra de honra! Pergunte Vossa Alteza à Oriane se estou a exagerar.
— Como não, Alteza, no outro dia disse numa só frase, de um só fôlego: «Não conheço um exemplo de sic transit gloria mundi mais comovente»; digo a frase a Vossa Alteza porque depois de vinte perguntas e recorrendo a linguistas, conseguimos reconstituí-la, mas o Robert atirou aquilo sem respirar fundo, mal se podia distinguir que havia latim lá pelo meio, parecia uma personagem d' O Doente Imaginário! E tudo isto a propósito da morte da imperatriz da Áustria!
Proust, Em Busca do Tempo Perdido - O Lado de Guermantes
Relógio d' Água, Lisboa: 2003. (trad.: Pedro Tamen)
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