sábado, 28 de agosto de 2010

Allzumenschliches

Quanto ao que me pediste na última carta que te enviasse, tratei de mandar fazer o Apolo — leva-to Léptines. É de um novo (e bom!) escultor, de seu nome Leócares. Havia no atelier dele outra peça muito fina, a meu ver: lá a comprei, para a oferecer à tua mulher, que cuida de mim, esteja eu doente ou bem, de um modo que te honra a ti e a mim. Dá-lha, peço-te, a não ser que sejas de outra opinião. Envio-te ainda doze garrafinhas de vinho doce para os teus miúdos e duas de mel. Chegámos já tarde para a colheita dos figos e os mirtilos que estavam armazenados apodreceram, mas para a próxima vamos ser mais cuidadosos. Do resto das culturas há-de te falar o Léptines.

[361a] περὶ δὲ ὧν ἐπέστελλές μοι ἀποπέμπειν σοι, τὸν μὲν Ἀπόλλω ἐποιησάμην τε καὶ ἄγει σοι Λεπτίνης, νέου καὶ ἀγαθοῦ δημιουργοῦ: ὄνομα δ᾽ ἔστιν αὐτῷ Λεωχάρης. ἕτερον δὲ παρ᾽ αὐτῷ ἔργον ἦν πάνυ κομψόν, ὡς ἐδόκει: ἐπριάμην οὖν αὐτὸ βουλόμενός σου τῇ γυναικὶ δοῦναι, ὅτι μου ἐπεμελεῖτο καὶ ὑγιαίνοντος καὶ ἀσθενοῦντος ἀξίως ἐμοῦ τε καὶ σοῦ. δὸς οὖν αὐτῇ, ἂν μή τι σοὶ ἄλλο δόξῃ. πέμπω δὲ καὶ οἴνου γλυκέος δώδεκα σταμνία τοῖς παισὶ καὶ μέλιτος δύο. [361b] ἰσχάδων δὲ ὕστερον ἤλθομεν τῆς ἀποθέσεως, τὰ δὲ μύρτα ἀποτεθέντα κατεσάπη: ἀλλ᾽ αὖθις βέλτιον ἐπιμελησόμεθα. περὶ δὲ φυτῶν Λεπτίνης σοι ἐρεῖ.

É quase certo que esta carta de Platão (a décima terceira e última) não é, na realidade, dele, mas uma fabricação tardia. Ainda assim, gosto de, por momentos, abandonar o cepticismo científico e acreditar que ela é genuína e imaginar Platão a escrever estas linhas. O filósofo de génio fica, subitamente, tão frágil, tão pequenino, tão comum — tão humano.

imagem: O Fantasma de Platão instrui o Poeta Milton, de William Blake (1816)

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