Inversamente (e aliás muitos anos antes), a menina de Guermantes (Oriane), que não tinha coisa que se visse, dava mais que falar pelas suas toilettes que todas as Courvoisier juntas pelas suas. Até o escândalo das suas palavras fazia uma espécie de publicidade à sua maneira de se vestir e de se pentear. Atrevera-se a dizer ao grão-duque da Rússia: «Então, Monsenhor, parece que quer mandar assassinar Tolstoi?», num jantar para que não haviam sido convidados os Courvoisier, aliás pouco informados acerca de Tolstoi. Também não o estavam muito mais acerca de autores gregos, a avaliar pela duquesa viúva de Gallardeon (sogra da princesa de Gallardon, então ainda solteira), que, não tendo sido ao longo de cinco anos honrada com uma única visita de Oriane, respondeu a alguém que lhe perguntava a razão da ausência dela: «Parece que recita Aristóteles (queria dizer Aristófanes) em sociedade. Eu não tolero isso em minha casa!».
Proust, Em Busca do Tempo Perdido - O Lado de Guermantes
Relógio d' Água, Lisboa: 2003. (trad.: Pedro Tamen)
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