segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Mommsen, Ilustre Desconhecido


Até os não classicistas terão já ouvido falar da monumental obra de Edward Gibbon, The History of the Decline and Fall of the Roman Empire (podem adquirir a versão abridged da Penguin por um preço bastante razoável). Publicados entre 1776 e 1789, os seis volumes da obra, analisando o período que se estende de Marco Aurélio (180) até à queda do Império Romano do Oriente a.k.a. Bizâncio (1453), tornaram-se num clássico da prosa historiográfica. Boa parte da sua fama dever-se-á também à polémica tese de Gibbon de que o cristianismo foi um factor decisivo para a queda do império (a Penguin tem um bonito livrinho da sua magnífica série das Great Ideas com alguns dos principais capítulos da obra sobre os cristãos).

Poucos, porém, terão talvez ouvido falar de Theodor Mommsen e da sua Römische Geschichte (História de Roma). O nome de Mommsen talvez não seja de todo estranho aos ouvidos dos classicistas: a ele devemos o Corpus Inscriptionum Latinarum, uma colecção com todas as inscrições em latim que chegaram até nós, organizado de forma rigorosa e científica. No entanto, a fama de Mommsen entre os seus contemporâneos ficou sobretudo a dever-se a essa obra que há pouco referimos, a sua História de Roma, projecto planeado para cinco volumes, mas que se ficou pelos três primeiros, culminando com César, que Mommsen admirava imensamente. Um livro sobre as províncias romanas escrito mais tarde acabou por funcionar como uma sequela, cobrindo parte importante do que ficara por falar e já em 1992 foi lançada uma reconstrução tentativa do quarto tomo, a partir sobretudo de notas e apontamentos dos alunos de Mommsen. A obra, publicada entre 1854-1856, teve um enorme impacto, levando à atribuição do Prémio Nobel da Literatura ao seu autor, em 1902, uma no antes da morte deste.

Não posso deixar de me interrogar por que razão nunca antes tinha ouvido falar deste senhor e da sua obra monumental (disponível na Cambridge University Press, em cinco volumes, com a tradução inglesa original de 1862-1866, reeditados em paperback este ano: a colecção fica por £110). Não consigo deixar de supor que este desequilíbrio de fama entre Mommsen e Gibbon se deve tão-só ao facto de o inglês ter triunfado no século XX, ao ponto de eclipsar tudo o mais: é uma explicação um pouco mesquinha, mas, receio, mais verdadeira do que talvez queiramos admitir.

imagem: Theodor Mommsen, de Ludwig Knaus (1881) @ Nationalgalerie Berlin

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