—Requiescat in pace — sentenciou. — Sit tibi terra levis. Requiem aeternam dona ei, Domine. Estás a ver, quando é a morte que está em causa, quando se fala para mortos ou de mortos, o latim volta a ganhar a sua pujança. É a língua oficial para estes casos, por aqui se vê como a morte é uma coisa muito especial. Mas não penses que é por cortesia humanística que falamos latim em sua honra. A língua dos mortos não é o latim erudito, compreendes, o latim dos mortos é de uma natureza completamente distinta, diametralmente oposta, por assim dizer. Estamos a falar do latim sacro, do dialecto monástico, da Idade Média, de um cântico surdo, monocórdico, que parece vir das profundezas da terra — Settembrini não se identificaria com ele, não é coisa que agrade a humanistas e republicanos e a esse género de pedagogos, trata-se de uma outra ordem de ideias, da outra ordem de ideias que existe.
Thomas Mann, A Montanha Mágica, Dom Quixote, Gilda Lopes Encarnação (trad), 2009
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