terça-feira, 31 de julho de 2012

O Coliseu de Pisa

The ancient Colosseum in Rome is slanting about 40cm lower on the south side than on the north, and authorities are investigating whether it needs urgent repairs. Experts first noticed the incline about a year ago and have been monitoring it for the past few months, Rossella Rea, director at the 2,000-year-old monument, said in the Italian daily Corriere della Sera. [...] Rea has asked La Sapienza University and the environmental geology institute IGAG to study the problem and report back in a year.

ler notícia na íntegra aqui.

domingo, 29 de julho de 2012

Histórias do País de Helena


Havia marinheiros
No país de Helena
Que morriam ao pôr do sol

E havia Helena que sonhava
Fazer um dia tranças às ondas
E um berço muito grande para o mar

Daniel Faria, Poesia 
[originalmente em Oxálida
Assírio & Alvim, Porto: 2012.

Notas de um Classicista aos Evangelhos §1

§1 Ao Miguel agradeço ter-me pela primeira vez chamado a atenção para um estonteante passo da Ilíada, só comparável (e por defeito) ao verso 67 do Hino a Apolo, em que o deus é chamado de ἀτάσθαλος (o LSJ traduz por wicked; em português poderíamos escrever selvagem), para perplexidade geral dos comentadores. Logo no Canto I do Poema, no verso 47, lê-se, de facto: «E [Apolo] chegou como chega a noite» [ὃ δ᾽ ἤϊε νυκτὶ ἐοικώς] [trad.: Frederico Lourenço], um oxímoro violento: o deus da luz vem como as trevas. Encontramos, mas ao contrário, um paradoxo semelhante no final da descrição da Paixão, em Lucas 23, 54: 
καὶ ἠμέρα ἦν παρασκευῆς καὶ σάββατον ἐπέφωσκεν. [Et dies erat Parasceves, et sabbatum illucescebat.]
Adicionei a tradução latina da Vulgata para mostrar como ela, ao contrário de tantas traduções modernas que vertem ἐπέφωσκεν por começava, se mantém fiel à ideia do grego. De facto, ἐπέφωσκεν quer dizer amanhecia (tem na raiz φῶς, luz, de onde o nosso fós-foro, que os latinos traduziram literalmente por lúci-fer, aquele que transporta a luz). São Lucas diz-nos, então, que o sábado amanhecia — mas, e aqui está a beleza do passo, isso significa tão só que a noite caía e que Vénus (a estrela da tarde) era já visível no horizonte, marcando o início do sábado, que para os judeus começa, precisamente, depois do pôr-do-sol. Fora Lucas poeta e poderia ter escrito mais explicitamente: «amanhecia a noite».  

§2
Ταῦτα εἰπὼν Ἰησοῦς ἐξῆλθεν σὺν τοῖς μαθηταῖς αὐτοῦ πέραν τοῦ χειμάρρου τοῦ Κεδρὼν ὅπου ἦν κῆπος, εἰς ὃν εἰσῆλθεν αὐτὸς καὶ οἱ μαθηταὶ αὐτοῦ. [Jo 18, 1]. Havendo Jesus dito estas coisas, saiu-se com seus Discípulos d'além do ribeiro do Cedron, aonde estava uma horta, em que entrou ele e seus Discípulos. [trad.: João Ferreira d'Almeida]
Onde d'Almeida tem d'além no grego está πέραν, para/ na outra margem. Não sou um exegeta bíblico autorizado, mas parece subentender-se da preposição que Jesus e os discípulos atravessaram o ribeiro para o Getsémani. Quem esteja familiarizado com a via crucis no Coliseu que a RTP 2 transmite todos os anos por ocasião da Páscoa (digo esta em específico porque é diferente da tradicional e mais fiel aos relatos bíblicos), saberá que a Paixão de Cristo começa no Jardim das Oliveiras. A passagem do Cédron reveste-se assim de uma dimensão simbólica fundamental, marcando o início da cadeia de acontecimentos que é de todos, crentes e não crentes, sobejamente conhecida. Não querendo forçar os paralelos, mas ao revisitar o texto não pude deixar de me lembrar dessoutra travessia, também de um pequeno curso de água, igualmente marcante da História:

César Cruzando o Rubicão, de Jean Fouquet (segunda metade séc. XV) @ Louvre, Paris.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Art and Anarchy

Em 1960 a BBC convida Edgar Wind, o então-famoso autor de Pagan Mysteries of the Renaissance e o primeiro professor de História d'Arte em Oxford, para apresentar as Reith Lectures sob o título Art and Anarchy, que mais tarde se transformariam no livro homónymo. (Reza a lenda, e por lenda entendamos o classicista britânico Hugh Lloyd-Jones [e é por ele que eu faço a ponte para pôr isto aqui], que esta foi a única ocasião em que Wind escreveu algum texto antes de o apresentar numa conferência, e mesmo aquic apenas por exigência da BBC.) As gravações de duas sobrevivem (e há transcrições do conjunto), e dedicam-se a pensar "como e porque é que a grande arte nasce tantas vezes em tempos turbulentos."

Recasting the ancients

Pier Jacopo Alari de Bonalcosi a.k.a. Antico está em exposição em The Frick Collection. Mais sobre aqui e aqui.

domingo, 22 de julho de 2012

The Heroic and the Anti-Heroic in Classical Greek Civilization


Continuando o thema dos cursos disponibilizados online por vias tais como o Academic Earth, foram recentemente publicadas as gravaçõs das aulas sobre The Heroic and the Anti-Heroic in Classical Greek Civilization. Com títulos como Equal to a GodChampions of dikê, ou Loose Hair and Social Disorder, confesso já ter tropeçado em coisas mais imediatamente desinteressantes.

Aqui.

sábado, 21 de julho de 2012

A erosão do Latim e do Grego

Um texto da excelente Paula Barata Dias, roubado mais uma vez ao excelente De Rerum Natura, sobre a abertura de turmas dedicadas a ambas as línguas no ensino secundário.

A erosão do Latim e do Grego.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Consequências da Crise na Grécia


1. Zeus vende o trono a uma multinacional coreana. 
2. Aquiles vai tratar o calcanhar na saúde pública.
3. Eros e Pã inauguram prostíbulo.
4. Hércules suspende os 12 trabalhos por falta de pagamento.
5. Narciso vende espelhos para pagar a dívida do cheque especial.
6. O Minotauro puxa carroças para ganhar a vida.
7. A Acrópole é vendida e aí é inaugurada uma Igreja Universal do Reino de Zeus.
8. A União Europeia rejeita a Medusa como negociadora grega: "Ela tem minhocas na cabeça".
9. Sócrates inaugura o Cicuta's Bar para ganhar uns trocados.
10. Dionísio vende vinhos à beira da estrada de Maratona.
11. Hermes entrega currículo para trabalhar nos correios. Especialidade: entrega rápida.
12. Afrodite aceita posar para a Playboy.
13. Sem dinheiro para pagar os salários, Zeus autoriza as ninfas a trabalharem na Eurozona.
14. Ilha de Lesbos abre resort hetero.
15. Para economizar energia, Diógenes apaga a lanterna.
16. O Oráculo de Delfos revela os números do orçamento e provoca pânico nas Bolsas.
17. Ares, deus da guerra, é apanhado em flagrante a desviar armamento para a guerrilha síria.
18. A caverna de Platão alberga milhares de sem-abrigo.

Descoberto o porquê da crise: os economistas estão a falar grego!

Well you should be!


Madre Joana dos Anjos. Jerzy Kawalerowicz (1961)

Vieira, Maquiavel, Tácito

Seguem-se algumas notas que acompanham o texto do Sermão da Sexta Sexta-Feira de Quaresma, do Pe. António Vieira, na edição crítica da INCM (volume II dos Sermões). São genericamente inteligíveis apesar de soltas e providenciam, pela sua exaustão, uma história da interpretação de Tácito por Vieira e os seus contemporâneos, à luz de Maquiavel. 

133. Vieira encaminhou o seu discurso para a exprobação da má política e dos maus conselhos que davam primazia às «razões de Estado» mesmo quando elas são «contra Cristo», o que nos remete para a polémica da expulsão dos Jesuítas do Maranhão. Embora a expressão 'razões de Estado' não seja de Maquiavel (1469-1527) — mas sim, ao que parece, do arcebispo Giovanni della Casa, que a usou em 1547 dirigindo-se a Carlos V — ela é habitualmente associada à doutrina por ele exposta em Il Principe, obra escrita em 1513 — mas só publicada em 1532, depois de circular em cópias manuscritas — e condenada no Índex romano de 1559 e no Índex tridentino de 1564. A obra de Maquiavel inseria-se num largo movimento ideológico-político que punha em causa a primazia dos princípios cristãos no governo dos Estados. Assim, propugnava que, para alcançar e manter a sua própria glória e para garantir a preservação do Estado, o princípe não só podia como, em certos casos, devia recorrer a meios vedados pela moral tradicional, tal como lhe era lícito simular virtudes ou ostentar vícios que lhe mantivessem a majestade. Seguida por alguns e diabolizada por muitos, com toda a deturpação que sofreu de parte a parte, acusada de inspirar até os maiores horrores, como a matança da noite de S. Bartolomeu, em 1572, a obra de Maquiavel tornou-se um texto maldito sobretudo na perspectiva dos autores cristãos, especialmente para os teólogos jesuítas, que contra-atacaram com a teorização de uma 'razão de Estado' compatível apenas com os princípios da religião. Vieira está entre os que vêem nela a perniciosa regra por que se regem os governantes, condenando-a com veemência em toda a parte final deste sermão, ainda que em outros passos a sua exprobação da ideologia maquiavelista não seja tão severa (cf., e.g., o «Sermão de S. Roque», 1644, 2º do tomo XII, §60, onde escreve: «a bondade das obras está nos fins, não está nos instrumentos. As obras de Deus são boas; os instrumentos, de que se serve, podem ser bons, ou maus»). [...]

146. Tácito (c. 55-c. 117), o maior historiador latino, impopular entre os primitivos autores cristãos que erroneamente lhe assacaram a mentira de que os cristãos adoravam um burro como deus (cf. Tertuliano, Apologeticum 16, 3) e o exprobravam pela sua classificação dos cristãos como gente per flagitia inuisos (detestados pelas suas infâmias) e do cristianismo como exitiabilis superstitio (supertição perniciosa: Annales, XV 44, 2), não foi muito lido durante a Idade Média. Com o Renascimento, porém, a sua obra torna-se objecto de numerosas edições e traduções (com especial destaque para a edição de Justus Lipsius, em 1574), e suscita um profundo interesse, quer pelo seu teor moralista, quer pela lucidez e desencanto com que observou os efeitos da prepotência e crueldade de imperadores como Tibério e Nero. No entanto, logo no século XVI a obra de Tácito — em especial os Annales, cujos primeiros seis livros, os livros sobre Tibério, foram publicados em 1515 — começa também a ser lido como uma ars aulica de cariz afim ao maquiavelismo: a figura de Tibério torna-se, nesta perspectiva, o modelo do antigo 'príncipe' e os comentários à obra de Tácito, de que surge mais de uma centena só entre 1580 e 1700, passam a orientar-se predominantemente segundo as perspectivas do maquiavelismo. Em Tácito se encontra até uma expressão, arcana imperii (os segredos do poder: Annales, II 36), que será pedra-de-toque na discussão em torno da 'razão de Estado'. O interesse por Tácito assume, assim, uma amplitude que permitirá dar o nome de 'tacitismo' a todo um movimento ideológico que se verificou em campos como a literatura, a história, e sobretudo o pensamento político, e teve o seu apogeu no século XVII. No fim do século XVI, todavia, ressurge a linha de leitura mais favorável a Tácito. Coexistem, pois, dois vectores no tacitismo: recorrendo à divisão consagrada por Giuseppe Toffanin, na sua obra Machiavelli e il Tacitismo (1921), de um lado estão os 'tacitistas negros' — os que nele lêem lições de política maquiavélica, isto é, enquanto manual de como se tornar um tirano e de legitimação do poder absoluto e da 'razão de Estado' — do outro, os 'tacitistas vermelhos' — os que nele vêem lições que sustentam ideais republicanos e um guia que instrui sobre a forma de sobreviver debaixo de um governo despótico. Há, no entanto — e Vieira é largamente devedor dessa perspectiva — um terceiro grupo, o daqueles que atacam Tácito para atacarem Maquiavel, que continuava no Índex. É o caso de muitos autores cristãos, entre os quais assume relevo o jesuíta Pedro de Ribadaneira. A leitura da obra de Tácito sob pontos de vista antagónicos não cessou com o fim do tacitismo: bastará lembrar a utilização laudatória dos seus ideias republicanos por parte dos homens da Revolução Francesa, o ódio que Napoleão manifestava por Tácito que considerava um pamphlétaire, e o aproveitamento por parte de Hitler e do nacional-socialismo de obras como a Germania. Para uma boa síntese sobre o tacitismo, v. os trabalhos de P. Burke: «Tacitism», in T. A. Dorey (ed.), Tacitus, London, 1969, pp. 149-171; «Tacitism, scepticism, and reason of state», in J. H. Burns, with Mark Goldie (ed.), The Cambridge History of Political Thought, 1400-1700, Cambridge, 1994, pp. 479 e ss.; Alexandra Gadja, «Tacitus and political thought in early modern Europe, c. 1530-c.1640», in A. J. Woodman (ed.), The Cambridge Companion to Tacitus, Cambridge University Press, 2009, pp. 253-268.

147. Associando Tácito à doutrina de Maquiavel, cujo nome não é nunca pronunciado pois a leitura da sua obra continuava proibida, Vieira alude decerto também a todos os que seguiram e desenvolveram o maquiavelismo e o tacitismo. Recorde-se, entre muitos outros, o nome de Francesco Guicciardini (1438-1540) — também ele um teórico de que as virtudes tradicionais deviam apagar-se perante o objectivo da preservação do Estado, e sem dúvida o principal divulgador da teoria da 'razão de Estado' em toda a Europa — que, lendo e apreciando Tácito, considerava que a sua obra instruía sobre como havia que construir e sustentar um Estado absoluto. Para a análise do tacitismo e dos seus principais nomes em Portugal, v. Luís Reis Torgal, Ideologia Política e Teoria do Estado na Restauração, Coimbra, 1982, especialmente as pp. 168 e segs., do vol. II, e Martim de Albuquerque, Construção Ideológica do Estado, Lisboa 2002.

150. A perspectiva de Vieira sobre a obra de Tácito, pelo menos relativamente ao seu conteúdo — ou àquilo que da sua obra lera ou conhecia — é profundamente negativa, porque marcada pela interpretação que referimos supra. Nunca o incluindo entre o número dos historiadores, designando-o sempre por 'político' (cf. o já citado «Sermão da Primeira Sexta-Feira da Quaresma», §246, em que o associa a Xenofonte: «Entre os Políticos, Xenofonte, Tácito...», ou o que diz no Sermão Quarto do Rosário, (tomo IX, §143): «se o que escreve é Tácito, tudo é política»), criticando aqueles que põem em causa os ensinamentos da Bíblia Sagrada substituindo-a pela bíblia de Tácito (cf. Xavier Acordado, «Sermão Primeiro, Anjo», tomo VIII, §IV: «Os Políticos, que não contentes com interpretar a sua Bíblia, que é o Tácito, se metem também a comentar a nossa...»), «o texto dos Políticos» (cf. «Sermão do Felicíssimo Nascimento da Sereníssima Infanta Teresa Francisca Josefa», tomo XI, §V), Vieira insere-se na linha daqueles que identificam a obra do historiador romano com a 'malícia' que então orientava a reflexão sobre o poder, e declara categoricamente que Tácito era «mais versado nas políticas do mundo, que nas do espírito» (Xavier Acordado, «Sermão Décimo da Sua Canonização», tomo VIII, §V). Nessa perspectiva, lê ele próprio pela mesma cartilha de muitos, em Portugal e nos países da Europa. [...] Vieira não ficou, porém, imune ao fascínio da prosa de Tácito, e cita-o mais de uma dezena de vezes nas suas obras, embora pareça que nem sempre o faz por leitura directa.   

quinta-feira, 19 de julho de 2012

De Todos Ponto e Vírgula

Antoine Coypel, Estudo para o Funeral de Palante
O último Boletim de Estudos Clássicos (Dezembro 2011: o próximo está no prelo, ao que me dizem), que, por um conjunto de vicissitudes, só agora me veio parar às mãos, traz a tradução de uma das quarenta e sete questões abordadas no De Floribus Philosophiae do jesuíta Francisco de Mendonça, a saber: serão os pigmeus verdadeiros homens? O autor procura perceber a verdade da coisa e concorda com as autoridades antigas. Entre os seus muitos argumentos, apresenta um que lembra, na lógica, o que está por detrás do raciocínio da personagem de Samuel L. Jackson no Protegido (2000), de Shyamalan: sabemos que existiram homens gigantes — é natural, portanto, que também tenha havido homens minúsculos (o que os antigos falharam em perceber é que, obviamente, se estavam a referir a uma espécie hoje bem estudada e de todos nós conhecida: os hobbits). Ora quando Francisco de Mendonça apresenta as provas da existência de gigantes, sai-se com isto a páginas tantas:
E, nas letras profanas, é conhecido de todos que Palante, aquele filho de Evandro que Turno matou, ultrapassava, com a sua cabeça, as muralhas da cidade de Roma; pois, quando no ano de 800 depois de Cristo, o seu corpo foi encontrado junto das muralhas da cidade e foi erguido, inteiro, em seus pés, ultrapassava com os ombros as ameias dos muros. 
Aparentemente, explica uma nota da tradutora (Carlota Urbano), esta estória circulava, pois aparece até num livro de ideias para sermões. Ficaria muito contente se alguém me arranjasse mais testemunhos de tão prodigiosa descoberta, confessando que não fiz ainda grandes investigações sobre o assunto, que todavia cativou o meu interesse: não é todos os dias que, já em plena época cristã, se desenterra o corpo de um gigante e este é identificado - e as causas da identificação é o que maior curiosidade me suscita - com um herói da Eneida.

Nas Livrarias. Finalmente.

tradução de André Simões e J. P. Moreira

Philographics

Puff, nada que a Origem já não tivesse antecipado, mas para filósofos específicos, com os seus cartazes da Luísa Beato para as Tertúlias Pré-Socráticas

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Online na "Granta"

Electra, de Sófocles: Uma Versão Incompleta

Carlos Alberto Louro da Fonseca é um nome conhecido dos estudantes de Clássicas. O Professor, aparentemente, andava a trabalhar, quando faleceu, numa tradução da Electra de Sófocles. Descobri recentemente que o que há dessa tradução inacabada (uns quase quinhentos versos) foi publicada na Humanitas e que o artigo se encontra online, aqui. Depois de uma introdução de algumas páginas, vem logo a peça.

Olimvs.net

No início desta semana foi lançada a coleção Olimpvs.net, que, como o nome indica, tem como pano de fundo a mitologia grega. A série está integrada no Plano Nacional de Leitura e conta com a revisão científica do Centro de Estudos Clássicos de Lisboa. Aproveita ainda muito as potencialidades da net. O site oficial pode ser consultado aqui.

terça-feira, 17 de julho de 2012

O Complexo É Real


aqui falámos do complexo de Alexandre o Grande. A verdade, porém, é que as coisas mais insuspeitas, de facto, descobre-se que afinal têm uma raiz clássica. Descobri recentemente que a expressão de Luís XV (ou da Madame de Pompadour) «après moi, le déluge» deriva, em última análise, de um provérbio grego. Uma vez traçada esta genealogia, percebe-se inclusive melhor o sentido da elíptica afirmação do rei ou da sua amante. A história toda aqui.

Olimpíadas, Modernas e Antigas

As Olimpíadas de Londres estão à porta e o povo de Sua Majestade em alvoroço. Cambridge resolveu associar-se ao evento disponibilizando online uma mão-cheia de artigos das suas revistas sobre os Jogos Olímpicos, e desporto em geral, na Antiguidade. Para os curiosos, é só clicar aqui.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Emanuelo Severino - La verità nel pensiero greco

O grande philósopho italianos — Emanuele Severino  fala brevemente do conceito de ἀλήθεια e de ἐπιστήμη —aletheia e epistême— no pensamento grego.

domingo, 8 de julho de 2012

Aquiles e Pátroclo

Nem sucessivas e sucessivas migrações de aves
Perfarão a distância que agora nos separa
Mas esta nau não me levará a casa
E seguir-te não será morrer

Daniel Faria, Poesia 
[originalmente em Explicação das Árvores e De Outros Animais]
Assírio & Alvim, Porto: 2012.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Itália - Alemanha - Grécia. Amores imperfeitos.

Ma già in questo amore si palesa il più profondo fraintendimento. Il mito dell'accordo arte-natura impedisce di cogliere la forza tettonica originalissima dell'arte romana. Il tour di Germania si compie solo in Ellade. E ciò vale ancor più per le lettere e la filosofia. La latinitas rimane incompresa, o ridotta alla sola dimensione giuridico-politica. Questa incomprensione caratterizza tutta la filosofia tedesca, da Hegel a Heidegger. Quando "il gioco si fa serio", quando di "origine" occorre parlare, Germania ama Grecia - e abbandona la fanciulla Italia. Ma con quale energia quest'ultima reagisce e cerca di richiamare a sé l'amante!

Massimo CacciariUna relazione filosofica romantica idealista. in La Repubblica 28 Junho 2012.
(Para quem ler italiano, o texto completo é muito de fazer sorrir.)

segunda-feira, 2 de julho de 2012

O Comentador

Conversa imaginária entre Averróis e Porfírio, no Liber de Herbis de Monfredo de Monte Imperiali (séc. XIV)
[Situações excepcionais de trabalho académico têm ditado o meu silêncio neste blogue, ainda que vá acumulando material para postar depois. Sabendo não ser esta uma situação ortodoxa, que pretenda repetir, mas tendo como precedente, ainda que inverso, o uso, num trabalho de seminário de mestrado, de textos aqui antes publicados, deixo agora um parágrafo daquele que tenho agora em mãos, que vem na sequência de outro [parágrafo] sobre a visão "decadentista" de Platão, expressa no Livro VIII da República, onde é apresentada a sequência negativa (inevitável) dos regimes políticos (aristocracia, timocracia, oligarquia, democracia e tirania). A edição utilizada da Exposição foi a de Miguel Cruz Hernandez, de 1998 (5ª edição), publicada pela Tecnos, de Madrid].

§4.1 Poucos estarão dispostos a adoptar a perspectiva de Platão: como os gregos em geral, o Mestre tem a força esquecida de olhar o abismo sem ceder ao monstro. É, nesse aspecto, sintomática a forma como Averróis explica as teses do Livro VIII na sua Exposição da República de Platão. Apesar de invocar [95|367v] a doutrina física, que podemos fazer remontar a Anaximandro, da compensação (a desmesura de um dos elementos acarreta o triunfo subsequente do seu contrário) para ilustrar a passagem da democracia à tirania (o excesso de liberdade gera a escravidão mais completa), afirma peremptoriamente que o modelo de desenvolvimento que vale na natureza (em que da semente vem a árvore, da flor o fruto, sem que se possa omitir etapas: natura non facit saltus) não serve para os fenómenos políticos: «respecto a estos otros assuntos [as sociedades] son completamente libres» [102|371r]. Esta posição obriga Averróis a aceitar que em cada regime existem cidadãos com o carácter próprio dos homens de outros regimes, condição de possibilidade para que a transição para qualquer outra constituição se opere [ib.]. 

Todavia o regime democrático é, na sua opinião, particularmente aberto, porque acolhe todo o género de homens (lembremo-nos da imagem platónica do manto colorido): «encontramos en ella [na democracia] gente preocupada por el honor, hombres buscadores de bienes, e individuos inclinados a la tiranía; y hasta es posible que entre ellos se cuente alguno que prefiera la virtud y sea guiado por ella» [83|362v]. Como o ἄπειρον de Anaximandro, a democracia é, apropriadamente (na medida em que é o que mais preza a liberdade, ao ponto de a estender ao seu futuro), o regime da máxima possibilidade (e, correlativamente, o da menor actualidade do poder qua poder [mando]: cada um faz o que quer), caixa de chocolates («you never know what you’re gonna get»), de onde pode sair qualquer outro. Não é, por isso, de estranhar que o Andaluz considere a democracia o regime das primeiras sociedades, que emergem uma vez satisfeitas as necessidades básicas [84|363r e 93|367r]. O poder não se afirma logo, na sua robustez, antes há que pensar que nos primórdios valia apenas um conjunto mínimo de leis, as únicas que os democratas, talibãs da liberdade, aceitam, que protegem o direito à vida e à propriedade (as leis primárias), os direitos comerciais (leis secundárias) e a moralidade (!) (leis terciárias) (observe-se a hierarquia) [83-4|362v]. Escusado será dizer que, com o tempo, até estas leis (nomeadamente a da propriedade) acabam desrespeitadas. 

A evolução para a tirania, porém, como já foi dito, não é inevitável, simplesmente a progressão dos regimes elaborada por Platão é a que mais frequentemente se regista [102|371r], e Averróis, como um Maquiavel, vai ilustrando a sua exposição com exemplos retirados da História dos reinos árabes peninsulares. A sua recusa do determinismo platónico está desde logo patente na razão que dá para o fim do reinado do filósofo-rei: são «los gobernantes de esta comunidad [que] no procuran la selección de los cidadanos adecuados para la procreación del modo como Platón ha especificado» [87|364v] [sublinhado nosso]: é a uma decisão voluntária dos governantes que conduz ao fim do regime ideal e não, como em Platão, os limites necessários do conhecimento humano. Por fim, há que registar, engrossando o optimismo do Comentador, o que implica esta sua tese de que qualquer πολιτεία pode evoluir para outra (pode saltar-se, por exemplo, directamente da democracia para a aristocracia!): é então de admitir que são muito mais os homens justos, capazes de governo (para as qualidades do filósofo-rei, vide 80|361r), do que, lendo Platão (sempre muito céptico em relação ao seu aparecimento), seríamos levados a crer. Vale a pena então ter fé: o rei já está entre nós.

Sex and the Classics

[...] I first started investigating my parents' shelves (and those of my grandparents, and of my older brother) when awareness of sex dawned. Grandpa's library contained little lubricity except a scene or two in John Masters's Bhowani Junction; my parents had William Orpen's History of Art with several important black-and-white illustrations; but my brother owned a copy of Petronius's Satyricon, which was the hottest book by far on the home shelves. The Romans definitely led a more riotous life than the one I witnessed around me in Northwood, Middlesex. Banquets, slave girls, orgies, all sorts of stuff. I wonder if my brother noticed that after a while some of the pages of his Satyricon were almost falling from the spine. Foolishly, I assumed all his ancient classics must have similar erotic content. I spent many a dull day with his Hesiod before concluding that this wasn't the case. [...]

Julian Barnesmy life as a bibliophile